O Projeto

Para uma jornalista que tem “mar” no nome, escrever um livro-reportagem sobre surf foi uma experiência única: o barulho do mar, o calor da areia, o colorido das pranchas, cruzando a rebentação, compuseram um cenário mais interessante do que qualquer redação de jornal.
Entretanto, apesar da beleza lúdica da praia, foram as histórias, a parte mais empolgante deste trabalho. Afinal de contas, foi a primeira vez que entrevistei pessoas que tinham motivos de sobra para ficar de mal com a vida, mas que preferiram fazer das dificuldades, uma motivação a mais para vencer.


Eu sempre quis fazer um Trabalho de Conclusão de Curso que mesclasse jornalismo, diversão e responsabilidade social. Por isso, em dezembro de 2010, no final do terceiro ano de faculdade, dediquei várias semanas à busca pelo tema perfeito.

Foi uma tarefa difícil porque, quase sempre, os assuntos pelos quais eu me interessava não atendiam os três requisitos básicos da minha proposta: leveza, relevância acadêmica e relevância social. O resultado disso foram noites em claro e pesadelos terríveis onde, na maioria das vezes, eu era reprovada por não ter escolhido a tempo, um tema para o meu projeto.

Mas, numa sexta feira de dezembro, enquanto conversava com o meu pai e assistia vídeos no Youtube*, me deparei com um vídeo em que vários surfistas com deficiência visual desciam a mesma onda.
Essa foi a primeira vez que tive contato com o surf adaptado, uma modalidade, dentro do esporte, desenvolvida para pessoas com deficiência.

Animada, mergulhei fundo na pesquisa. Lembro de ter achado pouquíssimas matérias e artigos sobre o assunto, mas mesmo assim, não desanimei: anotei o nome dos autores, fiz uma busca pelas instituições que atuavam na área e procurei saber quem eram os praticantes do surf adaptado aqui no Brasil.
Com a pauta em mãos, fiz aquilo que todo jornalista gosta de fazer: ir à campo – o que no meu caso, foi um pouco diferente.

Em dez meses de muito trabalho, suor, e-mails trocados e idas à praia, entrevistei surfistas adaptados, surfistas do circuito profissional, educadores físicos, psicólogos, shapers, fabricantes de pranchas, jornalistas, cineastas. Foi na areia da praia, com o soluço das ondas de plano de fundo, que conheci bonitas lições de vida, histórias de gente que encontrou no mar, a motivação para seguir em frente.

O resultado disso tudo é um livro de 226 páginas, sobre pessoas como eu e você, que gostam de viver e ir à praia no final de semana. Talvez, a única diferença que exista, é que elas surfam. Todo o resto é apenas detalhe.

Mariana Pedroso